Prógonos

Gostei muito da perfinst e do lindo espaço! Que continue a dar o estímulo à curiosidade, o prazer da descoberta, de preferência a bastante gente!

Parabéns pela vossa encenação/instalação, uma invocação de Lagoa Henriques com base no ambiente em que ele viveu: o seu (segundo) atelier de Belém. Estando integrada num grupo de amigos, alguns que foram seus alunos e colegas e que bem conheceram o atelier, hesitámos entre a estranheza de encontrar um ambiente que bem conhecêramos assim transformado, e a leitura que vocês fizeram desta figura que talvez vocês não tivessem conhecido tão bem. Na segunda parte da visita, comecei a achar que a vossa invocação era inteligente e sensível. Vocês, com os dados que tinham, conseguiram captar algo essencial: o coleccionador de objectos improváveis, que atribuía tanto valor a uma pedra e a uma raiz de árvore como a uma obra de arte consagrada; o homem generoso que amava animais, e que a estes fazia poemas; o ser sensível que acima de tudo celebrava a vida. Na vossa encenação/instalação, o rapaz desnudo que desperta do do seu sono, situado num plano superior do cenário, (considerando que toda a construção da Karnart é cenário) foi uma proeza. Do alto surge um jovem. Jovem deus poderia ser, que cativa pela beleza, e que toca a sensibilidade rara de quem, como Lagoa, é guiado pela estética e descobre beleza nos mais simples gestos e situações, que ao comum dos mortais passa despercebida.

É sempre bom regressar àquela que foi a casa de Lagoa Henriques e Carlos Amado onde era regular frequentador das tertúlias e ceias que ali se faziam. (...) Quando o meu ex-aluno Luís Castro recebeu a gerência daquele espaço, depois da morte dos seus proprietários, deparou com um espaço enormemente degradado, sujo, cheio de baratas e de seringas de droga, irreconhecível. Que, com a ajuda de Vel Z, seu companheiro nesta aventura do Perfinst, misto de instalação e performance, e alguns, muitos, amigos conseguiu limpar e restaurar, recuperar (...). "PROGÓNOS", (...) o seu último trabalho, remete-nos exactamente, numa homenagem a Mestre Lagoa Henriques e Carlos Amado, para aquele mítico espaço. Convidando-nos a nele viajar e percorrer, ver fotos dos seus antigos donos e convidados frequentadores da sua casa, descobrir um mural antes muito escondido da autoria de Lagoa Henriques, desfolhando livros, publicações e desenhos seus agora recuperados. Com uma guia excelente - Isabel Galvão e um colega seu, o jovem Francisco Arraiol, num nu muito belo, já que o nu masculino, e não só, é uma presença regular na obra de Lagoa Henriques - desenho e escultura. Por outro lado as fotos de Alípio Padilha dão-nos, com um grande impacto, o estado de degradação e lixo acumulado em que estava aquela casa abandonada durante alguns anos. Gostei ainda da banda sonora, sobretudo da final, música de Nini Rota, autor de excelentes bandas sonoras de Federico Fellini e do vídeo deslumbrante de Vel Z sobre os frescos romanos de Pompeia. (...)

Gostei muito do espectáculo. Eu gosto muito do ritual, e em todos os vossos espectáculos está sempre muito presente. A actriz é maravilhosa, também pelo seu humor, como muitas vezes se refere às situações, como pela sua presença durante todo o espectáculo. A Homenagem ao Lagoa Henriques e ao seu companheiro, penso que não podia ter sido melhor!!! Emocionei-me no espectáculo algumas vezes, porque nele me projectei bastante! O poema lido é maravilhoso, foi o primeiro momento da minha emoção: a ligação dele à Natureza, aos Animais, passarinhos....enfim, comum aos Artistas! depois tudo, os objectos, os manuscritos, tudo o que foi possível ser salvo. O trabalho do Vel também é maravilhoso!

Gostei imenso ! Não percam … última oportunidade de mergulhar no espaço do Lagoa ! Lindo !

Dois centenários que nos levaram aos belos espaços que os celebram. (...) A instalação de Luís Castro e Vel Z na invocação encenada do nosso mestre escultor Lagoa Henriques (Lisboa, 27.12.1923 -21.02.2009), no espaço da Karnart, em boa hora atribuído pela autarquia, em 2014, a estes dois singulares criadores. Na verdade, não vejo quem melhor que estes poderia salvar dos escombros o glorioso espaço na Avenida da Índia, totalmente ao abandono, que com boa memória fora atelier-casa dos artistas Lagoa Henriques e Carlos Amado (também este já falecido, cerca de dois anos depois). Pelo amor à Natureza, à Arte, à Beleza que os interliga. Há, pois, uma tocante similitude neste percurso que o espectáculo PRÓGONOS proporciona. Extraordinário tributo. Ó gente curiosa, mas ó gente que sinta que sinta que o merece, não o deveis perder!

Um projecto incrível: a Karnart, uma associação cultural, conseguiu dar vida à que foi outrora casa-atelier dos escultores e companheiros Lagoa Henriques e Carlos Amado, quase destruída após a sua morte (respectivamente em 2009 e 2011). Com sabedoria extraordinária e bastante talento, transformou todo o espaço numa espécie de gabinete de curiosidades onde podemos perder-nos durante horas a explorar tudo como numa verdadeira "kunstkammer". A inteligente performance "Prógonos", de Luís Castro, com os actores Isabel Gaivão e Francisco Arraiol, é a forma mais esplêndida de nos perdermos neste ambiente mágico.

...os objectos do tempo e da saudade, as memórias que guardamos intocáveis, pois são preciosas, pequenos relâmpagos do passado, o grande prazer de aprender com alguém que respeitamos e amamos. Mestre Lagoa Henriques, o homem que me ensinou a olhar o mundo à minha volta, como se os meus olhos fossem lentes de ampliar quando fixava o objecto, com a mesma simplicidade com que respiramos. Obrigada Karnart, Luís, Vel Z, pela viagem de volta ao passado que tão bem organizaram com os poucos fragmentos abandonados, de uma tão rica vida que o Mestre teve, convosco ficarão para sempre guardados num lugar chamado Coração.