Escravo Doutros

Imagens de vídeo compiladas por Vel Z
LOCAL E DATAS

Lisboa
Espaço Karnart
20 a 22 e 26 a 29 de Janeiro de 2005, às 22h

APRESENTAÇÃO

Financiado pelo Ministério da Cultura a apoio pontual na área artística da Dança, ESCRAVO DOUTROS somou seis solos/monólogos interpretados por Luís Castro que se assumiu, enquanto intérprete dotado de capacidades de movimento, representação e canto, fluente nas línguas italiana, francesa, inglesa e espanhola, matéria-prima nas mãos de seis profissionais de dança: o coreólogo Gil Mendo, o programador Mark Deputter e os coreógrafos e bailarinos Amélia Bentes, Miguel Pereira, Sílvia Real e Vera Mantero. A criação da linha narrativa que uniu todos aqueles tijolos criativos foi da sua responsabilidade e de Vel Z. Gil Mendo partiu de fotografias de Gregory Crewdson, Susanne Themlitz, Wolfgang Tillmans; Mark Deputter navegou em “Gehende” de Peter Handke numa tradução de João Barrento; Sílvia Real partiu do filme de Roman Polanski “TheTenant”; Vera Mantero enviou uma cassete com a música “Noites do Norte” de Caetano Veloso; Amélia Bentes explorou a projecção do corpo do intérprete em movimento sobre o próprio corpo despido e estático; Miguel Pereira, última das apresentações, inverteu a linha narrativa total do espectáculo. No dia 14 de Dezembro de 2004, Luís Castro escreveu o seguinte texto para o programa de espectáculo: “A produção artística de ESCRAVO DOUTROS foi estruturada em quatro fases de trabalho. Uma primeira, que decorreu entre o dia 07 de Outubro e o dia 11 de Dezembro de 2004, onde os criadores convidados desenvolveram isoladamente uma situação performativa. Uma segunda, de 12 a 30 de Dezembro, onde as criações descobertas na fase anterior foram por mim e pelo coordenador artístico Vel Z ligadas entre si para darem origem a um espectáculo uno. Na terceira fase, entre 3 e 7 de Janeiro, os criadores convidados tiveram ocasião de perceber o todo em que a sua célula estava integrada, e sobre isso tiveram ocasião de opinar e intervir. Na quarta fase, que se prolongou até ao dia 19 e culminou na estreia do dia 20 de Janeiro, tiveram lugar os ensaios corridos com técnica e imprensa. SÍLVIA REAL foi a primeira dos seis profissionais de dança, por mim convidados a integrar este projecto, a começar a aventura. Era dia 18 de Outubro, eram dezassete horas. Encontrámo-nos no quartinho da biblioteca aqui do EspaçoKarnart e falámos sobre consumismo, sobre a fobia comum relativamente às relações com vizinhos, sobre anúncios, sobre a ideia de intervalo, sobre cinema, Polanski, Tati, Kubrick ou Bergman da parte dela, Murnau, Fritz Lang, Fassbinder, Pasolini ou Visconti da minha. Ao longo de treze sessões de trabalho passámos por temas como a escravidão do consumismo, e por papéis com marcas, pelo embrulho de objectos, pela sensação de frio, de surpresa, de inesperado, de coincidências… na penúltima sessão muito é alterado e a maioria dos objectos embrulhados são substituídos por caixotes onde a Sílvia me convida a fazer listas, a escrever nomes de escritores presentes na minha biblioteca e a anotar referências de objectos que venero, aqueles que eu transportaria forçosamente numa mudança de casa. Parecer e não ser, com rigor. Surpreender. GIL MENDO começou a seguir. Era dia 19 de Outubro, eram quinze horas de uma das terças e quintas-feiras em que podia connosco ensaiar. Trouxe-me Wolfgang Tillmans, falou-me de Gregory Crewdson, mostrei-lhe Bessmertny e Susanne Themlitz. Decidimos que fotografias seriam o nosso ponto de partida. Escolheu de entre as centenas de objectos que constituem o espólio de performance/instalação da KARNART algumas dezenas, e com eles começámos a compor. Um objecto assumiu de imediato a sua posição de destaque por remeter para a fotografia de Crewdson que reproduz uma mulher deitada sobre água numa casa inundada (era o objecto uma boneca com um vestido branco que fora já a noiva em “Ácido Azul”) e uma fotografia especial foi ponto de partida para a criação do personagem que abre (e fecha, por apropriação de Miguel Pereira) o espectáculo – a Granny. Experiências com vestidos, combinações, meias de seda, cabeleiras, baton, casacos, lenços, a opinião da Fernanda, o Vel e o Gil à minha esquerda e à direita, a compor, a criar, a alterar, a pintar, a amarrar, a prender, a ajustar, a esconder, a mostrar, a filmar, a observar… num processo de entendimento perfeito. A carga das instalações pontuais serve a mensagem interventiva que move o colectivo Karnart e me levou a criar o conceito de perfinst, ao qual o Gil se adaptou totalmente: os objectos humanizaram-se, o performer objectizou-se. MARK DEPUTTER visita-nos de uma forma veloz. Com uma disponibilidade limitada, marcamos um horário diário de trabalho mais alargado. Começamos a 26 de Outubro às quinze horas e trinta minutos, e o ponto de partida foi texto. Peter Handke e “A Hora em Que Nada Sabíamos uns dos Outros” revela-se demasiado longo para o tempo de apresentação requerido a cada criador, aproximadamente dez minutos, e opta-se por Peter Handke e “Caminhantes”. O Mark seguro, a descobrir, a saber exactamente o que não quer, e eu a oferecer-lhe este adereço para a criança, aquele para a mulher, aqueloutro para o homem. A atmosfera dos personagens a caminhar de luminosa a negra, a sonoridade a crescer de intensidade e pânico; o medo, a desprotecção, a exposição de dois seres humanos frágeis à selva urbana… ou a querida Natureza, o campo, o mar e o céu que tanto nos equilibram… AMÉLIA BENTES começa no mesmo dia do Mark, às dezanove horas. Traz consigo um furacão de ideias, um fogo que se adapta ao meu. Pede-me corpo e emoções… …tremo a pensar na minha mãe cujo desaparecimento me continua a doer em chaga. Não quer mais nada senão eu, quer encher-me de informação física, quer só corpo no espaço, quer isolar-me num tubo de luz. Propõe que nos inspiremos nos extremos de consistência da matéria de Antony Gormley, e quer projecção de imagens no meu corpo. Leva-me a passar os olhos por paisagens imaginárias de desolação cinzenta, negra, castanha e vermelha, crio o peito de lava, desdobro-me em todas as emoções que posso e entrego o corpo a uma agitação perigosa e delicada. Escolhemos das imagens filmadas pelo Vel a chucha de sangue, a autopunição com mãozinhas em aranha, o power altruísta e o power egoísta, o galo, a limpeza de alma, os objectos no corpo, o sair do casulo, o lamber do corpo, o vómito puxado, a desfragmentação, a baba em lagarto estático, a mulher em sedução… MIGUEL PEREIRA aparece-nos no dia 29 de Novembro para desconstruir. A cada novo ensaio corresponde uma nova ideia, inspirações em catadupa. Passamos de manta de retalhos e patchwork, ao escrever e descrever da história da minha situação concreta, ali no momento, no quadro negro; vamos de rewinds e fastforwards da minha passagem pelas transições dos momentos dos outros criadores ao longo do espectáculo, para uma correria danada a vestir e a despir roupa num camarim imaginário que ele elege como a sua zona de representação. “Muda de roupa, corre nu, pendura a roupa, bem, esticadinha, assim não pode ser, sapatos direitos, o chinelo não está na posição, mais rápido, tens que ser mais rápido Luís, tens que escolher o outro cabide, agora o chapéu, gosto de roupas e de sobreposições de roupas… Ri às gargalhadas com as minhas trapalhices, com o meu frenesim, com o meu lado infantil, e vem ao de cima a amizade que nos liga há mais de quinze anos. Decide fechar o espectáculo como ele abre, invertendo-o. E gosta da frase que lhes lancei no primeiro dia de trabalho “Tenho quarenta e três anos e duas hérnias discais”… VERA MANTERO visita-nos do dia 02 de Novembro com a sua energia mágica e sai para se volatilizar permanentemente, enviando-nos duas semanas mais tarde pel’“O Rumo do Fumo” um envelope com um compact-disc, onde vem indicado “Faixa 2”, e uma folha de papel com a letra de uma canção. Leio-a… oiço a voz do Caetano Veloso… reporto-me ao Brasil e ao Moçambique da minha infância, e fico à espera. Esperamos. Continuamos à espera.”

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

conceito e interpretação

Luís Castro
produção executivaGisela Barros
Susana Correia
João Pedro Branco
coordenação artística e imagem para divulgaçãoVel Z
propostas artísticas por ordem de apresentação

[GM] Gil Mendo

[MD] Mark Deputter

[SR] Sílvia Real

[VM] Vera Mantero

[AB] Amélia Bentes

[MP] Miguel Pereira

canção “mi par d’ udir ancora” [GM]

Ney Matogrosso

a partir de uma ária de “I Pescatori Di Perle” de Bizet

sugestão de som [GM]

Vel Z

fotografias de inspiração [GM]

Gregory Crewdson, Twilight (plate 19)

Gregory Crewdson, Twilight (plate 6)

Susanne Themlitz, Quiprocuo - O Reino das Fadas

Susanne Themlitz, Quiprocuo - Vinte Anos Depois

Wolfgang Tillmans, Deranged Granny

montagem de som e vídeo [SR]

Sérgio Pelágio

a partir do filme “The Tenant” de Roman Polanski

apoio à montagem de som e vídeo [SR]

Carlos Ramos
Jorge Borges

texto “gehende”/”caminhantes” [MD]

Peter Handke traduzido por João Barrento

canção “noites do norte” [VM]

Caetano Veloso sobre texto de Joaquim Nabuco

banda sonora [AB]

variz@cronicaelectronica.org

captação e montagem [AB]

Paulo Abreu
João Pedro Gomes
Vel Z
direcção técnica e contra-regraRicardo Cruz
montagem Marco Patrocínio
David Mesquita
Ricardo Cruz
apoio à criação de luz João Lopes Alves
co-criação e operação de somSérgio Henriques
operação de luzDavid Mesquita
grafismo João Leonardo
Vel Z
fotografias de cenaVel Z
Maria Campos
apoio aos figurinosFernanda Ramos
captação vídeo Vel Z
Sofia Afonso
pós-produção vídeoPaulo Abreu
Vel Z
FINANCIAMENTO E APOIOS

financiamento institucional

Ministério da Cultura / IA – Instituto das Artes

apoio especial

Faculdade de Medicina Veterinária

apoio à divulgaçãoespeci

ATLx_Associação Turismo de Lisboa, Rádio Paris-Lisboa e Antena 2

agradecimentos

Afonso Horta, Ana Teresa Real, André Maranha, Bibi Perestrelo, Carla Andrade, Carlos Ramos, Carlos Bártolo, Cristina Basto, Cristina Mesquita, Ezequiel Santos, Guilherme Duarte, Guta de Carvalho, Isabel Gaivão, Jeannine Trévidic, Jorge Borges, Luz da Camara, Magda Lobo, Maria do Rosário Coelho. Nuno Góis, Olga Seabra Franco, Pedro David, Pedro Sena Nunes, Renata Amaral, Sameiro Costa, Sandra Caldeira, Sofia Oliveira, Tiago Mesquita, e ainda Fernando Ferreira, Clube Português de Artes e Ideias, Danças Na Cidade, Escola Superior de Teatro e Cinema, ETIC Escola Técnica de Imagem e Comunicação, Forum Dança, Gipsyhair, Luzeiro, Sensurround.

GALERIA

Fotografias de espectáculo de Maria Campos e Vel Z

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